Correria do cotidiano, necessidade de ir devagar
A máxima de que há um tempo para tudo na vida ainda tem validade... O cotidiano nos enterra e deixa pouco espaço para as coisas que realmente importam.
Hoje eu percebo que os dias mais felizes da minha vida definitivamente não foram dias em que eu estava correndo aqui e ali para resolver coisas 'urgentes' e 'inadiáveis', ao contrário, foram momentos em que me permiti um tempo para não fazer nada. Para observar a natureza, para bater um papo animado, sem pensar no próprio tempo.
Tenho lido alguma coisa sobre anarquia e cada vez mais chego à conclusão de que essa organização de vida que a sociedade criou não é boa para nós.
Vou tirar meus minutos do dia agorinha para não fazer absolutamente nada e sentir que sou humana. Não é um ótimo programa?
Acho que combina com essa 'vibe' o trecho do poema do Pessoa, pelo menos a parte em que fala 'adia-te, presente absoluto':
Hoje não me resta, em vésperas de viagem,
Com a mala aberta esperando a arrumação adiada,
Sentado na cadeira em companhia com as camisas que não cabem,
Hoje não me resta (à parte o incômodo de estar assim sentado)
Senão saber isto:
Grandes são os desertos, e tudo é deserto.
Grande é a vida, e não vale a pena haver vida,
Arrumo melhor a mala com os olhos de pensar em arrumar
Que com arrumação das mãos factícias (e creio que digo bem)
Acendo o cigarro para adiar a viagem,
Para adiar todas as viagens.
Para adiar o universo inteiro.
Volta amanhã, realidade!
Basta por hoje, gentes!
Adia-te, presente absoluto!
Mais vale não ser que ser assim.
Comprem chocolates à criança a quem sucedi por erro,
E tirem a tabuleta porque amanhã é infinito.
Mas tenho que arrumar mala,
Tenho por força que arrumar a mala,
A mala.
Não posso levar as camisas na hipótese e a mala na razão.
Sim, toda a vida tenho tido que arrumar a mala.
Mas também, toda a vida, tenho ficado sentado sobre o canto das camisas empilhadas,
A ruminar, como um boi que não chegou a Ápis, destino.
Tenho que arrumar a mala de ser.
Tenho que existir a arrumar malas.
A cinza do cigarro cai sobre a camisa de cima do monte.
Olho para o lado, verifico que estou a dormir.
Sei só que tenho que arrumar a mala,
E que os desertos são grandes e tudo é deserto,
E qualquer parábola a respeito disto, mas dessa é que já me esqueci.
Ergo-me de repente todos os Césares.
Vou definitivamente arrumar a mala.
Arre, hei de arrumá-la e fechá-la;
Hei de vê-la levar de aqui,
Hei de existir independentemente dela.
Grandes são os desertos e tudo é deserto,
Salvo erro, naturalmente.
Pobre da alma humana com oásis só no deserto ao lado!
Mais vale arrumar a mala.
Fim. (fonte: http://www.fpessoa.com.ar/poesias.asp?Poesia=005)
Hoje eu percebo que os dias mais felizes da minha vida definitivamente não foram dias em que eu estava correndo aqui e ali para resolver coisas 'urgentes' e 'inadiáveis', ao contrário, foram momentos em que me permiti um tempo para não fazer nada. Para observar a natureza, para bater um papo animado, sem pensar no próprio tempo.
Tenho lido alguma coisa sobre anarquia e cada vez mais chego à conclusão de que essa organização de vida que a sociedade criou não é boa para nós.
Vou tirar meus minutos do dia agorinha para não fazer absolutamente nada e sentir que sou humana. Não é um ótimo programa?
Acho que combina com essa 'vibe' o trecho do poema do Pessoa, pelo menos a parte em que fala 'adia-te, presente absoluto':
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